quarta-feira, 12 de agosto de 2009

CRÓNICAS DE UM LABIRINTO XI - O Sabor da Mónica - 90 x 90 - 2009 -600.00€

Crónicas de um Labirinto XI - “O Sabor da Mónica”

O texto para esta pintura é baseado no livro (Como matar a solidão), final do capitulo 5, meio do capitulo 18 e final do livro.

A Saudade…do aconchego do peito
Há memórias que ficam para trás, e é irremediável, não porque percam a “ocasião”, isto é, já não vêm a propósito e não é mais que uma minha estupidez armada em razão, apenas perdeu a intensidade, as palavras vão-se diluindo no tempo. Existe dois patamares do passado, um que é o da recordação, que tem gravado nele a saudade intensa dos momentos de felicidade, e o patamar das memórias, que são apenas segundos passageiros, como um disparo dum flash de uma máquina fotográfica, através do qual a imagem vem, dá um calor, um suor, e depressa vai, porque tem mesmo de ir. É certo que o coração foi feito para ser quebrado, só espero que um dia que te lembres que adormecias no meu peito, no meu peito que ainda tem o teu cheiro.

A Viagem…não sei para onde…
Havia que tomar uma decisão, correcta ou não, se faria o telefonema ou se apenas abortava a decisão. Tinha de ser de impacto, senão poderia começar a hesitar e aí, não iniciava o caminho da viagem, uma viragem com dor, mas que era uma oportunidade de dizer a mim próprio que quero esquecer independentemente dos caminhos que possa percorrer no futuro, sejam os mais correctos ou não, mas de facto (isso só o resto da vida é que pode dizer e sinceramente,) há momentos nesta vida em que não se pensa no amanhã. Há pessoas que não vão compreender esta minha decisão, pois não sabem os verdadeiros motivos deste meu grito.A tentar descontraír bebi um sumo frio e comi duas fatias de pizza, a segunda mal comida, mas nem adiantava; assim, instalei-me no meu carro e liguei mesmo, tendo acabado por marcar um encontro para dentro de dez minutos ir ver alguém numa morada, indicada por uma voz deturpada pelo sotaque de alguém não português.
A minha relação com o sexo feminino nos últimos anos, fez de mim um homem mais maduro na maneira de sentir emocionalmente o poder da mente sobre o corpo e, por isso mesmo, pensar em fazer sexo com alguém que não conhecia aterrorizava-me; é complicado o fazer sem sentir algo antes, sem estar mentalmente confortável para aquela situação porque sempre fui algo mecanizado, chegar, tirar a roupa e tocar logo seguida no corpo, mas um corpo estranho inibia-me. Estava a morrer de medo, não porque pudesse acontecer qualquer coisa de ruim, era apenas uma sensação que tinha de o fazer para me libertar, precisava de correr riscos, e certamente não era pelo sexo, a verdade era essa, era mais pela liberdade espiritual de poder falar com alguém do meu problema, com alguém que não conheço, com alguém que me ouvisse. Liguei-lhe mais uma vez porque tinha perdido a morada e quando finalmente encontrei o edifício, não me lembrava em que piso se situava nem de que lado era. Quando cheguei à porta de entrada, ela viu-me pela câmara instalada na parede, abriu-me a porta pelo o automático, entrei e optei por subir as escadas apesar de ter elevador. Não havia retrocesso possível e lá fui subindo devagar pois o meu coração cada vez batia com mais força, sentia-me cansado em todos os aspectos, mas fui subindo até sentir algum barulho que revelasse alguém atrás de uma porta e, chegado a um certo patamar senti alguém de dentro de um apartamento a tocar na porta, que se abriu lentamente e donde espreitou uma cara morena e sorridente; ainda reflecti se era mesmo ali o meu contacto, olhei timidamente para a face dela e uma voz suave e se calhar também assustada convidou-me a entrar. Entrei, apresentei-me, e ela fez o mesmo, olhei de relançe para o corpo dela, vi que estava em langerie de cor preta, abriu-me uma outra porta e convidou-me a entrar para um quarto, um quarto vazio, apenas com um colchão no chão com duas almofadas e com dois tapetes de lado, os faziam conjunto com a colcha. Conversámos um pouco, falei que precisava de esquecer algo do meu passado, que esse motivo estava-me a atormentar físicamente e mentalmente. Ela tranquilamente, acenando com a cabeça disse-me apenas, “tudo bem, relaxa” O meu pouco á vontade continuou. Pouco tempo depois estávamos nús agarrados, confessei-lhe que nunca tinha visto uns peitos tão grandes, ela respondeu, que eu as podia tocar e que as beijasse, assim o fiz lentamente, tentei gozar, que seria o proposito de qualquer homem naquele instante. Além do incómodo da camisinha entrando no meu sexo era o desconforto que a situação em si me trazia para ter uma ereção naquele momento sem mais nem menos. Quando começamos demorei pouco tempo a gozar, o meu estado emocional fez com que a pouca exitação parasse. Nem preciso de afirmar que não cheguei a gozar nada, achei que meu coração ia parar. Aos poucos fui-me restabelecendo dizendo-lhe que preferia conversar, era essa a chave da minha ida aquele lugar, e assim que me consegui descontraír começei a falar do meu problema com palavras soltas e sinceras, mas estranhas para aquela mulher, numa situação em que também ela acabou por passar por uma experiência de grande conforto. Fez-se luz naquele quarto, empatia ao primeiro encontro, conforto emocional. Ela é uma mulher simples, talvez a sua simplicidade seja o seu maior trunfo, posteriormente disse-me várias vezes que quando quizesse telefonar-lhe de novo que o fizesse, a verdade é que eu lhe disse que o faria mais uma vez. Tudo indica que aquele apartamento serve apenas para este trabalho e eu uma ferramenta desse mesmo trabalho, assim o percebi, quando ela me disse esta frase, “nós aqui trabalhamos até ás 23h”. Rapidamente saí, dando-lhe um beijo na testa dizendo-lhe, “Deus te abençoe”, como forma de agradecer, foi uma despedida muito sentida para ambos, ela entendeu que eu não era uma pessoa qualquer, ficou muito surpreendida por tudo o que conversamos porque afinal o “prazer” foi outro, olhando para mim muito serena, despedindo-se com um, “Vai com Deus”. Não soube a idade dela ou até mesmo o nome não sei se é o verdadeiro mas isso sinceramente pouco ou nada interessa, o conforto espiritual que me transmitiu e a minha vontade em esquecer o passado foi determinante, era o sabor da Mónica, sou um homem do mundo e ela é uma mulher do universo…

Dias depois…
Quando na vida se sente que se foi desprezado por alguém em quem se depositou a alma é um castigo sem fim, um castigo sem limites, uma experiência que se cai no vazio, sente-se medo de ficar só, sentia-me a degradar a passos largos, a nossa sombra passa a ser a solidão. O meu segundo encontro com a Mónica aconteceu cinco dias depois e as razões desse encontro foram as mesmas, precisava de falar um pouco de mim, necessitava de dar continuidade á minha conversa a quando da primeira visita, dizer algo que só a ela o poderia dizer, ansiava por respirar novamente a oportunidade de estar com ela e que desta vez íamo-nos conhecer melhor, tinha-lhe de fazer delicadamente algumas perguntas. Nessa noite eu estava bastante sensível, a melancolia habitual dos últimos dias, precisava de ter um carinho diferente e não sei se ela compreenderia essa minha necessidade. Cheguei, e desta vez não me perdi, tinha telefonado do mesmo local anterior e atendeu uma outra pessoa, fiquei com a sensação que estariam várias pessoas no apartamento e que possivelmente não daria para a visitar, até pela hora tardia. Perguntei pela Mónica e ouvi do outro lado, alguém a chamar, uns segundos depois quando me estava a identificar ela reconheceu-me de imediato, perguntei se a podia visitar e logo repentinamente, “claro que pode”. Dez minutos depois estava a tomar um duche, tinha-lhe dito que precisava de ter água no meu corpo para limpar o stress de um dia chato de trabalho. A Mónica desta vez estava acompanhada de uma amiga, também ela com alguém, pessoas estas que não cheguei a ver, apenas só vozes. Em conversa com a Mónica, ela disse-me que eu podia também ter um encontro com a amiga, era uma questão de escolha. Respondi que não, que a minha preferência era só ela…Timidamente deitei-me, estávamos nus, e a meio de uma tentativa de um pouco de prazer falhado, tive a relação desejada, estava muito vulnerável, debrucei-me sobre ela e abracei-a, encostando o meu peito aos grandes peitos dela, foi um abraço intenso e apertado da minha parte, durante esse abraço murmurei esta frase: “mais vale este abraço de aconchego do que tanta coisa”, ela concordou e de seguida apertou-me também. Amei, este abraço, tínhamos dado um passo naquele instante para algo mais íntimo, aquilo a que eu chamo de liberdade espiritual. A Mónica ficou sensibilizada com este afecto e de seguida contou-me um pouco da sua vida, que tinha uma filha de 11 anos e que persegue um objectivo na vida, que ainda não o tinha conseguido mas que o deseja arduamente há 16 meses. Eu disse-lhe apenas que a “sorte” não chega, que deve de lutar por aquilo que acredita. Sexualmente, novamente um desastre, nem me importei com isso, por não ter tido sexo com a Mónica das duas vezes que estivemos juntos, isso na realidade não era a questão central para mim, não estou a procurar nenhuma relação ao sexo nem a minha alma procura qualquer tipo de salvação, pois essa já não a tenho há muito, o que procuro é um abraço, um abraço que eu perdi…

Não devemos julgar as pessoas todas da mesma maneira, nunca se sabe o que vai dentro de cada alma e as suas necessidades, porque no fundo mais vale algo simbólico mas com grande significado emocional do que algo que possivelmente á partida poderia ter uma importância maior mas que no presente não é uma prioridade da vida de uma pessoa. Amar e não ser amado é terrível, considero que é dos piores momentos da vida do ser humano…pode-se ter muita gente à volta, mas a solidão anda em cada esquina…

Tó Luís
2009

A EVOLUÇÃO DA PINTURA…

Durante três meses a pintura “O Sabor da Mónica”, foi evoluíndo até chegar ao ponto final; teve um crescimento atribulado pelo meio com a execução de outras pinturas da série: REFLEXOS, mas chegou finalmente a bom porto com o trabalho realizado.
É altura de dar a explicação, o que é verdadeiramente esta obra e qual o seu significado.

Enquanto lia o livro “Como matar a solidão”, fui criando imagens que transportei para a tela, fiquei sensibilizado pela história retratada e escolhi algumas dessas passagens do livro para retratar na pintura “O Sabor da Mónica”, finalizando com um texto por mim escrito com uma opinião curta e pessoal.

A PINTURA…

O ser humano tem uma liberdade restrita para escolher o seu rumo na vida mas tem no seu pensamento liberdade ilimitada para sonhar caminhos.
As Borboletas criadas na pintura são precisamente essa liberdade do pensamento, o da personagem “Mónica”, andar a seguir um objectivo de vida, um caminho a percorrer, momento esse que está retratado nas borboletas que saem do sexo feminino que se encontra a meio da pintura.

As grades, significam, não uma prisão, mas sim algo em que a personagem Masculina está presa mas que encontrou uma saída espiritual no encontro com a “Mónica”.
Libertando as necessidades espirituais temos o de poder de falar com alguém sobre o seu sofrimento embora esse alguém nem sempre seja quem se conhece.

As Folhas com os tons, Roxos, Brancos e Pretos, que são o fundo da pintura retratam todo o ambiente estranho, emotivo e bastante vivido pelo personagem masculina a quando da visita ao mundo da “Mónica”.
A cor “Preta” na solidão sentida, o “Branco” na pureza da relação e o “Roxo”, na envolvência do lado sonhador da vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário